Brasão Episcopal

O brasão de Dom Hernaldo Pinto Farias, sss tem um movimento circular. Uma das formas previstas pela Heráldica.
Tudo converge para o centro onde encontram-se os símbolos escolhidos: um prato, envolto por trigos, o cesto de pães, o peixe e o cálice, tendo acima a pomba. Por trás dos mesmos, uma cruz perpassa todo o escudo, estendendo-se às partes superior, com outra cruz, e inferior, formando uma espada.
Os símbolos evocam o lema “Vinde comer”, extraído do Evangelho de João 21,12b. Trata-se da aparição de Jesus Ressuscitado aos discípulos à beira do lago em Tiberíades (cf. Jo 21,1-14).

Pela terceira vez (cf. v. 14) o Ressuscitado aparece aos seus discípulos, provocando a segunda pesca milagrosa. É o último capítulo do Evangelho de João, formando uma espécie de epílogo, tendo Pedro como personagem destinatário central. Ou seja, aquele que presidirá a comunidade dos cristãos, seguidores e seguidoras de Jesus Cristo.
A primeira pesca foi a do discipulado, do chamado dos discípulos ao seguimento de Jesus (cf. Lc 5,1-11). Essa é a pesca da Igreja no mundo, vocacionada a ser “pescadora de homens”. Trata-se de uma pesca com imperfeições e divisões, simbolizada pela frustração dos discípulos em terem trabalhado a noite inteira sem pescar nada, pelo rompimento das redes e pela declaração de Pedro, reconhecendo-se pecador.

A segunda pesca, por sua vez, referência bíblica do brasão, é a pesca que todos desejamos: imagem da Igreja triunfante, vencedora em Cristo ressuscitado e vivente nele.
Pedro, líder da comunidade, decide ir pescar e é acompanhado pelos demais discípulos. Mais uma vez passaram a noite toda, e nada pescaram. A frustração foi inevitável.
É neste momento que aparece o Ressuscitado, desejando comer algo daquilo que eles pescaram. Como fruto do trabalho dos irmãos.

Jesus não diz: “avancem mais para o fundo…”, como em Lc 5,4b. Aqui em João ele, de forma imperativa, diz para lançarem as redes “à direita do barco” (Jo 21,6a). Estar à direita é o lugar do Ressuscitado, que, vitorioso, está sentado à direita do Pai, como vencedor do pecado e da morte (cf. Lc 20,41-43; 22,69; Mc 14,62). Mas é também o lugar daqueles que, no julgamento final (cf. Mt 25,31-40), foram separados à direita (cf. Mt 25,33), aos quais o Senhor declara: “‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa; estava nu e

me vestistes; doente, e cuidastes de mim; na prisão, e fostes visitar-me’. Em verdade, vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25,33-36.40b).
Esses benditos do Pai formam uma grande multidão. São 153, “de todas as nações, tribos, povos e línguas” (cf. Ap 7,1-17)

São todos aqueles que trabalharam na manifestação do Reino de Deus entre os povos; os pescadores da humanidade, para conduzí-la a Deus, por meio de Jesus, o único que nos conduz ao Pai. Por isso, as redes, nesta pesca, não se romperam…
O discípulo que Jesus mais amava que, em meio à frustração do retorno à marte, é quem reconhece o Mestre, chamando-o de “Senhor”, ou seja, o kyriós, o Ressuscitado, o vencedor. Jesus está à beira do lago, tendo já preparado peixe e pão em cima das brasas (v. 9) para os seus amigos se alimentarem. Mas, não se esquece de juntar também os peixes que seus discípulos pescaram, como dom divino e fruto do trabalho humano!

É neste contexto eucarístico (cf. v. 13) que Jesus convida aos discípulos: “Vinde comer”. Ou seja, vinde participar da Ceia dos que labutam “a noite toda” no anúncio do Evangelho, na manifestação do Reinado de Deus, os peregrinos, os que alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro (cf. Ap 7,14), os “benditos de meu Pai”. Vinde todos à Ceia dos pecadores, daqueles que se tornam Corpo de Cristo, do qual participam e que, profeticamente, cuidam do faminto, do sedento, do forasteiro, do nu, do doente, do prisioneiro. Os justos!

Neste contexto, a Eucaristia que celebramos se torna a antecipação profética das realidades celestes, onde a Igreja, triunfante e vencedora no Cristo, viverá para sempre. Ela é a mesa preparada pelo próprio Senhor para todos os seus pequenos, seus irmãos. Sacramento da piedade e da unidade, vínculo de caridade. Mesa para a qual todos são convidados a assentar-se, para a escuta atenta da Palavra do Senhor e para alimentar-se com do ressuscitado à mesa do Pão da Vida.

Quem dessas mesas participa, compromete-se com o Senhor a anunciar e viver, na verdade, o seu Evangelho. O Evangelho da Eucaristia na partilha do pão, no assentar-se à mesa como irmãos e irmãs, principalmente com e para mais necessitados.
Vinde comer! Convida o Cristo. Vinde comer! Convida a Igreja e convidamos nós. Que essa festa eucarística se estenda a todas as mesas da vida, na fraternidade, na solidariedade e na alegria de ter participado da Ceia preparada pelo Senhor a todos os que lhe obedecem. E um dia possamos ser acolhidos pelo Cristo no banquete eterno da casa do Pai, e sermos aceitos entre os comensais escolhidos pelo Senhor!


+ Hernaldo Pinto Farias, sss

Dado em Senhor do Bonfim
17 de novembro de 2019
III Dia mundial dos pobres

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